Historiador analisa nexo entre abolicionismo e trabalho forçado em Angola no século XIX

Criado em: 31/05/2017 - 13:28

O ideário abolicionista contribuiu para fundamentar a implantação do trabalho forçado na África de colonização portuguesa. A tese foi apresentada pelo professor Roquinaldo Ferreira, da Brown University, durante a conferência "Abolicionismo e Trabalho Forçado em Angola: Uma Perspectiva Atlântica (século XIX)", no IFCH/Unicamp em 23/5.

Segundo ele, examinar a intensa circulação de ideias, modelos e conceitos abolicionistas a partir da África coloca em questão uma visão eurocêntrica e teleológica desse processo, geralmente entendido como impulsionador da liberdade. Diferentemente, defende o historiador, o abolicionismo foi uma das bases do processo brutal de exploração do trabalho forçado dos africanos que ocorreu em Angola, a partir de meados do século XIX.

Baseando-se em pesquisas sobre a atuação da Junta Protetora de Escravos e Libertos, instituída em Angola em 1854, Ferreira analisa o papel do órgão na gestão de um processo gradual de passagem da escravidão para a liberdade, em consonância com o movimento de refundação do colonialismo português na África, no contexto posterior à independência do Brasil. O projeto colonial português de fazer de Angola uma colônia agrícola, seguindo o modelo brasileiro, implicou o esvaziamento de canais por meio dos quais escravos e libertos podiam recorrer contra abusos sofridos e abriu campo para a instituição de um regime de exploração econômica baseada no trabalho forçado naquele país africano.

A conferência resume pesquisas que integrarão o próximo livro do pesquisador, um dos grandes especialistas sobre a história de Angola nos séculos XVIII e XIX.

Em breve, o CECULT divulgará o vídeo com a íntegra da conferência.