Livro destaca produção de Machado de Assis como cronista

Criado em: 06/12/2016 - 16:22 | Alterado em: 21/02/2017 - 12:07
Capa Ana Flávia

De 1883 a 1886, o jornal carioca A Gazeta de Notícias publicou uma série coletiva de crônicas intitulada "Balas de Estalo", na qual diversos intelectuais ensaiavam respostas às principais transformações políticas e sociais por que o Brasil passava naquele momento, esboçando projetos de futuro para o país. Entre eles, estavam o jornalista Ferreira de Araújo, proprietário d' "A Gazeta", o escritor Valentim Magalhães, o historiador Capistrano de Abreu e o escritor Machado de Assis que, assim como os demais intelectuais, apresentava-se por meio de um pseudônimo, Lélio.

As crônicas publicadas por Machado de Assis sob esse pseudônimo são o tema do livro As máscaras de Lélio: Política e Humor nas Crônicas de Machado de Assis (1883-1886), da historiadora Ana Flávia Cernic Ramos. O livro integra a coleção Várias Histórias, coordenada pelo Centro de Pesquisa de História Social da Cultura (CECULT), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). A autora analisa a forma pela qual Machado de Assis, ao longo das 125 crônicas que publicou na série “Balas de Estalo”, integrou esse grupo e lidou com a construção de uma voz narrativa dentro dessa produção coletiva, incorporando tanto as características gerais da coluna, quanto os seus próprios projetos políticos e literários.

Na época, Machado de Assis já era um escritor renomado e era chamado por seus colegas de “baleiro filósofo”. Apropriando-se de referências humorísticas da literatura ocidental, Machado criou um narrador, Lélio, utilizando a crônica como um instrumento privilegiado para dialogar com o mundo em que vivia. Desse modo, fazia das páginas de um dos maiores jornais do Rio de Janeiro espaço para discutir tanto política quanto o papel da literatura nas últimas décadas do século XIX. Mostrando-se perplexo diante da realidade que o cercava, Lélio lançava-se semanalmente à tarefa de encontrar a essência das ideias e as “verdades” sobre os fatos cotidianos, sobre a política, a ciência e tantos outros temas caros à história do Segundo Reinado. No conjunto de temas abordados, pelo narrador criado por Machado de Assis, destacam-se os embates que marcaram a aprovação da Lei dos Sexagenários, em 1885. 

Assim, o livro procura mostrar de que modo as experiências do literato frente às disputas e incertezas vividas ante o encaminhamento político para o fim da escravidão no Brasil marcaram profundamente suas escolhas e estratégias literárias dentro da série. Reconhecendo que para muitos desses intelectuais e literatos o texto ficcional é um importante instrumento de intervenção na sociedade, a historiadora Ana Flávia busca compreender como Machado de Assis desenvolveu em suas crônicas um personagem-narrador que dialogasse com as tensões políticas típicas de seu tempo histórico.

Sobre a autora:
Ana Flávia Cernic Ramos possui graduação em História pela Unicamp, mestrado e Doutorado em História Social da Cultura também pela mesma instituição. Concluiu Pós-Doutorado em Teoria Literária no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professora Adjunta de Teoria e Metodologia da História no Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia - UFU (MG) desde setembro de 2011. Tem experiência na área de História, com ênfase em Literatura e História e História do Brasil Império, atuando principalmente em temas como imprensa, império, crônica, política e ficção e história.