Novo olhar sobre a obra de Coelho Netto, o renomado romancista da Primeira República

Criado em: 01/11/2016 - 08:46 | Alterado em: 15/12/2016 - 14:08

Coelho Neto, um antigo modernista, de Leonardo Affonso de Miranda Pereira, acaba de ser publicado pela editora carioca Contra Capa. O livro mostra os diálogos da obra de Coelho Netto com o mundo das ruas, habitado por homens e mulheres negros e mestiços, cujas práticas, tradições e interesses o literato passou progressivamente a incorporar em sua prosa.

Coelho Netto é, na história da literatura brasileira, um romancista de trajetória singular. Participou ativamente da campanha abolicionista e republicana na juventude, transformando-se nos primeiros anos do século XX em um dos principais escritores brasileiros de sua geração. Com uma produção extensa (mais de 120 volumes, entre romances, contos e crônicas), atuou também na imprensa carioca das primeiras décadas da República, e foi dos primeiros autores brasileiros que tentou (nem sempre com sucesso) viver exclusivamente das letras. No final da década de 1920, era um dos mais lidos e prestigiados literatos de seu tempo, mas também se tornou alvo privilegiado da crítica de jovens escritores modernistas, que denunciavam a forma pomposa e rebuscada de muitos de seus escritos, definindo-o como um autor passadista e estéril, cuja produção não seria capaz de enfrentar os grandes dilemas da nacionalidade.

Como resultado da crítica modernista, Coelho Netto foi transformado no símbolo de tudo o que combatiam os novos autores. Sua obra passou a ser vista como o avesso do novo movimento e foi progressivamente sendo esquecida ao longo das décadas seguintes. O livro de Leonardo Pereira dissolve essa barreira, ao mostrar os laços de continuidade entre a obra de Coelho Netto e as proposições de seus críticos. O exame da trajetória desse literato permite entender não apenas as razões de seu sucesso, como o próprio silêncio ao qual foi relegado história da literatura brasileira. 

Sobre o autor:
Leonardo Affonso de Miranda Pereira é professor do Departamento de História da PUC-Rio e doutor em História Social pela Unicamp. É autor de O carnaval das letras: literatura e folia no Rio de Janeiro (Ed. da Unicamp, 2004); Footballmania. Uma história social do futebol no Rio de Janeiro (1902-1938) (Nova Fronteira, 2000); e As Barricadas da saúde. Vacina e protesto popular no Rio de Janeiro da Primeira República (Fundação Perseu Abramo, 2002).