PAULA BRITO E O NASCENTE MERCADO EDITORIAL BRASILEIRO

Criado em: 13/03/2017 - 17:11 | Alterado em: 17/04/2017 - 09:35

No nascente mercado editorial brasileiro no século XIX, destaca-se a figura de Francisco Paula Brito (1809-1861), um tipógrafo negro que se tornou proprietário de uma das principais tipografias do período, a empresa Dous de Dezembro, criada em 1850.

Descendente de uma família de escravos libertos, Paula Brito foi um dos expoentes da intelectualidade negra brasileira no século XIX: além de ter alcançado sucesso empresarial, foi o responsável pelo lançamento de autores como Teixeira e Sousa e Machado de Assis, assim como publicou jornais em defesa dos direitos dos negros, como O Mulato e O Homem de Cor. Em 1851, Paula Brito recebeu o título de impressor da Casa Imperial, concedido por d. Pedro II.

A trajetória de Paula Brito, “o primeiro editor digno desse nome que houve entre nós”, como registrou Machado de Assis, é o tema do livro Um editor no Império, do historiador Rodrigo Camargo de Godoi, lançado pela Edusp. Godoi é professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador do Centro de Pesquisa em História Social da Cultura (Cecult), sediado na mesma universidade.

A obra, que resulta de sua tese de doutorado defendida no Departamento de História do Instituto de Ciências Humanas da Unicampem 2014, é uma biografia de Paula Brito, na qual o autor analisaas condições históricas que permitiram o surgimento da figura do editor no Rio de Janeiro do século XIX.

“O fato de pertencer a uma família de libertos afeita às letras possibilitou a Paula Brito o acesso à leitura e à escrita, o que contribuiu muito para o aprendizado tipográfico e para o desenvolvimento de seu gosto pela poesia”, contextualiza Godoi. Nos anos 1830, Paula Brito tornou-se um impressor-livreiro após a compra da livraria de um primo. A década seguinte foi marcada pela ascensão social do editor, graças a seu bom desempenho como comerciante, o que foi fundamental para a implantar melhorias na sua oficina tipográfica.

“Motivado pela concorrência das narrativas ficcionais francesas, o então impressor-livreiro decidiu pela primeira vez financiar a publicação de um romancista nacional, o jovem Teixeira e Sousa”, relata o autor. Nesse sentido, Paula Brito foi uma das primeiras figuras a atuar como editor no país – aquele compra o manuscrito do autor e o publica -, em consonância com um movimento semelhante que ocorria emcidades como Paris, Boston e Nova York.

“Por intermédio da trajetória de Francisco de Paula Brito é possível apreender a especificidade histórica em torno do surgimento de editores no Rio de Janeiro, no momento em que esses empreendedores de bens culturais impressos igualmente surgiam em diferentes cidades do ocidente, cada qual respondendo a estímulos particulares e variados”, analisa o autor.

No caso brasileiro, dois fatores contribuíram para dinamizar o processo: em primeiro lugar, a necessidade de fazer frente à crescente internacionalização do mercado editorial da década de 1840, época em que as traduções francesas eram avidamente consumidas no Rio de Janeiro. Segundo, as alianças políticas feitas por Paula Brito. A proximidade do editor com membros destacados do Partido Conservador seguramente lhe facilitou o acesso às modalidades de financiamento instituídas pelo governo imperial, que abarcavam de privilégios às loterias.

Assim, destaca o historiador Godoi, no caso brasileiro, o aparecimento do editor coincide com a formação do Estado nacional.

Serviço:
Título: Um editor no Império: Francisco de Paula Brito (1809-1861)
Autor: Rodrigo Camargo de Godoi
Editora: Edusp
Páginas: 392
Preço: R$ 40,00
 

Leia a matéria sobre “Um Editor no Império”, publicada pelo Jornal da Unicamphttps://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/04/07/livro-traz-biograf...