Entre setembro de 1948 e novembro de 1949 o historiador norte-americano Stanley Julien Stein esteve no Brasil para realizar uma pesquisa sobre a economia cafeeira do Vale do Paraíba. Vinha desenvolver seu projeto de doutoramento, defendido na Universidade de Harvard em 1951 e publicada, com o título Vassouras, a Brazilian coffee county, 1850-1900, em 1957. O estudo que produziu focaliza a vida econômica, social e cultural do município de Vassouras, no Vale do Paraíba. Ao longo do século XIX, esta região (inicialmente coberta por densa floresta tropical), se transformou radicalmente. A floresta desapareceu e as colinas passaram a abrigar extensas fazendas de café, movidas pela força do trabalho de centenas de escravos africanos e seus descendentes. Entre 1850 e 1880, o Vale do Paraíba se transformou no maior produtor de café do mundo. Nas décadas finais do século XIX, a produção começou a declinar e, por volta de 1900, foi suplantado pela produção cafeeira do Oeste paulista.
Durante o período em que esteve no Brasil, além da consulta a arquivos e bibliotecas, Stein visitou fazendas e entrevistou dezenas de pessoas, incluindo ex-escravos e seus descendentes. Nesse percurso, tirou várias fotografias e realizou algumas gravações, que permaneceram inéditas por mais de meio século. Utilizados em consonância com outros documentos, constituíram fontes importantes no trabalho de pesquisa e na análise realizada por Stein. Publicado o livro, as gravações ficaram esquecidas e jamais foram ouvidas depois que os gravadores de arame caíram em desuso.
Há cerca de cinco anos, Stanley Stein localizou a pequena bobina de arame em seu arquivo pessoal, motivado a procurá-la em virtude de um contato anterior com o etnomusicólogo Gustavo Pacheco. Localizada, a bobina de arame foi enviada ao Brasil e hoje encontra-se depositada no Arquivo Edgard Leuenroth na UNICAMP. Com recursos de um projeto de pesquisa financiado pelo CNPq, o Centro de Pesquisa em História Social da Cultura (CECULT - UNICAMP) contratou serviços especializados para transpor a gravação original para um CD. Em seguida, com recursos da Petrobras Cultural, este material está sendo tratado (passando por um processo de "limpeza" de ruídos e chiados, mixagem e masterização) e integrará uma publicação intitulada Memórias do Jongo: As gravações Históricas de Stanley Stein, que inclui também artigos de Gustavo Pacheco, Stanley Stein, Silvia Lara, Martha Abreu e Hebe Mattos, e Robert Slenes sobre a pesquisa realizada por Stein, o livro dela resultante, e sobretudo sobre os jongos gravados por Stein.
Mais recentemente, já com o trabalho de preparação desta publicação em marcha, Stanley Stein localizou em seu escritório um conjunto de fotografias que haviam sido tiradas durante sua pesquisa em Vassouras. O material é constituído por 7 negativos de vidro (1 deles quebrado), 245 negativos flexíveis (a maioria 5cm x 7cm), 41 fotografias em papéis diversos e um postal. Os negativos de vidro são reproduções fornecidas pelo Arquivo Nacional e contêm reproduções de gravuras do século XIX referentes a Vassouras. Os negativos e as fotografias contêm imagens tiradas por Stein durante sua pesquisa em Vassouras. É um conjunto valioso, pois não apenas documenta técnicas fotográficas históricas, como registra várias fazendas da região de Vassouras visitadas por Stein, documentando casas-grandes, terreiros de café, cafezais, antigas senzalas, objetos diversos de uso cotidiano, cenas de trabalho e algumas das pessoas que entrevistou naquela ocasião.
Este projeto destina-se a tratar e estudar este valioso conjunto documental, a fim de possibilitar sua identificação, seu estudo e sua disponibilização aos pesquisadores interessados.