As experiências cumulativas das historiografias brasileira e francesa voltadas para a história da escravidão permitem abordar, com novas perspectivas, os processos de construção/reconstrução de identidades individuais e coletivas surgidos nas sociedades escravistas e pós-escravistas.
Ao associar três grupos consolidados (os da Unicamp e da UFBA no Brasil, o da EHESS na França), este projeto propõe-se a repensar esses processos dentro do contexto das circulações internacionais e nacionais no qual eles se produzem e por meio do qual eles são constantemente retrabalhados.
No bojo de certas situações chaves (denominação das pessoas, cultos religiosos, práticas corporais, práticas de rebelião, práticas jurídicas e sociais de conquista da liberdade, etc.), pretendemos examinar as experiências acumuladas por essas populações (na África como nas Américas) para reconfigurar os marcadores das identidades que lhes foram impostas ou que lhes pertenciam.
Queremos, dessa maneira, compreender como os intercâmbios (internos ou externos aos grupos examinados) contribuíram para essas reconfigurações. Ao privilegiar uma metodologia centrada na acumulação de micro-histórias de indivíduos ou de grupos pequenos em confronto com situações de crise, desequilíbrio, e ruptura, que provocam reações, negociações, e estratégias de aliança, desejamos contribuir para uma maneira de “fazer história” que articule o reconhecimento das singularidades à análise dos constrangimentos estruturais das sociedades: no nosso caso, sociedades envolvidas na dinâmica dos ritmos de uma história não somente social, mas também política, em que a sujeição dos homens e das mulheres ou sua recusa à mesma são as principais questões em jogo.